quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
1º sermão 

Todo o homem é devedor de Deus e tem o seu irmão como seu devedor. Haverá alguém que não deva nada a Deus, senão Aquele em quem não se pode encontrar pecado? E quem é o homem que não tem um irmão como seu devedor, senão aquele a quem ninguém ofendeu? Parece-te possível que haja um único homem a quem não se possa contabilizar qualquer falta para com um irmão? 

Portanto, todo o homem é devedor de alguém e tem os seus devedores. Por isso Deus, que é justo, deu-te uma regra para seguires com o teu devedor, e Ele próprio aplicará esta regra para com o seu. Existem, com efeito, duas obras de misericórdia que nos podem libertar; o próprio Senhor as formulou de uma forma breve no seu Evangelho: «Perdoai e ser-vos-á perdoado», «Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6,37ss). A primeira tem a ver com o perdão, a segunda com a caridade. 

Tu desejas obter o perdão dos teus pecados e também tens pecados a perdoar a alguém. O mesmo se passa com a caridade: o mendigo pede-te esmola e tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando pedimos, mendigos de Deus. Todos nos prostramos diante da porta do nosso Pai, da sua enorme riqueza. E suplicamos-lhe gemendo, desejosos de receber dele alguma coisa: ora essa coisa é o próprio Deus. Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes a Deus? Nada menos que o próprio Cristo, que disse: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu» (Jo 6,51). Quereis ser perdoados? «Perdoai e sereis perdoados.» Quereis receber? «Dai e dar-se-vos-á.»


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Tudo o que ligares na terra será ligado no céu.

Isaac da Estrela (?-c. 1171), monge cisterciense 


Tudo se torna comum entre o Esposo e a esposa, isto é, entre Cristo e a sua Igreja, incluindo a honra de receber a confissão e o poder de perdoar os pecados; assim se explicam aquelas palavras: «Vai mostrar-te ao sacerdote» (Mt 8,4). [...] Por conseguinte, a Igreja nada pode perdoar sem Cristo, e Cristo nada quer perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar senão a quem se arrepende, isto é, a quem Cristo tocou com a sua graça; e Cristo não quer perdoar a quem despreza a Igreja. 

Cristo, que é todo-poderoso, tudo pode por Si mesmo: baptizar, consagrar a Eucaristia, conferir o sacramento da ordem, perdoar os pecados, e tudo o mais; mas o Esposo, que é humilde e fiel, nada quer fazer sem a esposa. «Não separe o homem o que Deus uniu» (Mt 19,6). «É grande este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja» (Ef 5,32). [...] Não separes, portanto, a Cabeça do corpo (Col 1,18); não impeças a acção do Cristo total; porque nem Cristo é total sem a Igreja, nem a Igreja é total sem Cristo. O Cristo total e inteiro é a Cabeça e o corpo.

Fonte: Evangelho Cotidiano

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Foi o fogo do teu amor, Senhor, que permitiu ao diácono São Lourenço permanecer fiel

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 

O exemplo de São Lourenço encoraja-nos a dar a vida, ilumina a fé, atrai a devoção. Não são as chamas da fogueira, mas as chamas de uma fé viva que nos consomem. O nosso corpo não foi queimado pela causa de Jesus Cristo, mas a nossa alma é transportada pelos ardores do seu amor […], o nosso coração arde de amor por Jesus. Pois não foi o próprio Salvador que disse, acerca deste fogo sagrado: «Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado» (Lc 12,49)? Cléofas e o companheiro experimentaram os seus efeitos quando diziam: «Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32) 

Foi também graças a este incêndio interior que São Lourenço permaneceu insensível às chamas do martírio: ardendo em desejos de estar com Jesus, ele não sentia a tortura. Quanto mais crescia nele o ardor da fé, menos sofria. […] A força do braseiro divino que tinha acendido no coração acalmava as chamas do braseiro ateado pelo carrasco.